domingo, 29 de junho de 2008

Solidão



Sentimento de solidão...
Sinto-me perdida no meio da multidão
Vagueio por entre as ruas, despojada de mim.
Estou vazia... oca... nua de sentimentos e emoções
Preciso que os teus braços me abracem
Preciso sentir o toque das tuas mãos
Imagino os teus lábios no meu pescoço...
Imagino... muito mais...


Foto: rosalina afonso

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Crepúsculo




É quando
um espelho no quarto
Se enfastia
Quando a noite se destaca
Da cortina;
Quando a carne tem o travo
Da saliva;
Quando a força da vontade
Ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
Se equilibra....
É quando às sete da tarde
Morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina
com luz lívida, a palavra
despedida.


Poema: David Mourão-Ferreira
Foto: Norm Murray

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Divagações



O negro veludo do teu olhar
Pousa no meu corpo teimosamente.
Percorre-o, lentamente...
Divaga... lânguidamente,
demora-se... nos meus seios, no meu sexo...

As tuas mãos acompanham os teus olhos
As carícias são macias, são suaves...
E eu deixo-me ir... partir... subir...
Voar... para fora de mim.


Foto: CarbonKid

domingo, 22 de junho de 2008

Beijo-te



Encostar à tua, a minha boca...
Sorver a vida no teu fôlego...
Entre os teus lábios encontrar a minha razão de ser ...
No meu beijo sentir a urgência do amor...
No teu beijo sentir o sabor do mel... o desejo palpitante...
Beber-te a sede... até ao mais profundo do meu ser...


Foto: Jingna Zhang


domingo, 15 de junho de 2008

Olhando-se



O espelho enche-se com a tua
imagem; e queria tirá-lo da tua
mão, e levá-lo comigo, para
que o teu rosto me acompanhe
onde quer que eu vá.

Mas sem ti, o espelho
fica vazio; e ao olhá-lo, vejo
apenas o lugar onde estiveste, e
os olhos que os meus olhos procuram
quando não sei onde estás.

Por que não fechas os olhos
para que o espelho te prenda, e
outros olhos te possam guardar,
para sempre, sem que tenham de olhar,
no espelho, o rosto que eu procuro?


Poema: Nino Júdice
Foto: Hypnoticell

sábado, 14 de junho de 2008

Nesta curva



Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.


Poema: Alexandre O'Neill
Foto: Lena Queiroz



sexta-feira, 13 de junho de 2008

Incerteza




Sentimentos por descobrir…
Sensações à flor da pele…
Porque preciso de definir
O que pressinto nele?

Inquietações quem as não tem?
Será que ele as tem também?

E indefinições?... Incertezas?...
Tantos “ins” me rasgam a alma…
Pequenas coisas, miudezas,
Que perturbam a minha calma.

Preciso saber…
Preciso acalmar esta agitação…
Quero poder sentir sem sofrer…
Sem medo da rejeição.


Foto: Virgiliu Narcis




quinta-feira, 12 de junho de 2008

Desabafo



Estava sozinha... estava feliz... estava bem...
Não te esperava, não contava que te lembrasses de mim...
Porque me falaste?
Porque me fizeste recordar o que eu tanto me tinha esforçado por esquecer?
Para quê?


Foto: Alba Luna

sábado, 7 de junho de 2008

Encantamento



Deito-me na areia.
Deixo-me envolver pelos raios doirados do Sol que me aquecem a alma e acalentam o espírito.
O som das ondas a desfazerem-se na praia chega até mim como se de uma música suave se tratasse e deixo-me embalar docemente, sem pensar... sem questionar o que faço aqui.
Rolo... rebolo... quero sentir o roçar da areia quente na pele... quero sentir o abraço húmido da água no meu corpo... quero ser feliz...


Foto: antoniolouro



sexta-feira, 6 de junho de 2008

As sem razões do amor



Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Poema: Carlos Drummond de Andrade
Foto: Ricardo Tavares

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Paraíso



Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.


Poema: David Mourão-Ferreira
Foto: JanaVieras

domingo, 1 de junho de 2008

É o poema de quem rasga os versos



É o poema de quem rasga os versos
porque os sentiu demais para os dizer
e os ouve nas ondas tão dispersos
como os sonhos que teve e viu morrer.


Poema:António Patrício
Foto: Marina Cano