sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Tu

Queria saber descrever tudo o que sinto quando estou contigo, mas faltam-me as palavras...

A ternura, o carinho, a atenção que me dás e me fazem sentir tão especial, tão única!

O prazer, as sensações tão intensas, os momentos tão nossos, que me deixam completamente rendida e me fazem sentir tão desejada, tão mulher...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Estrela da Tarde


Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria.
Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia
e na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia


Poema: José Carlos Ary dos Santos

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Perdida


Sinto-me a vaguear sem rumo...
Uma sensação de vazio invade-me, atormenta-me... olho, mas não consigo focar a minha atenção em nada nem ninguém...
quero fugir e não posso. Não posso fugir de mim própria, mudar para qualquer outro lugar onde me sinta eu... onde me sinta parte de qualquer coisa que ainda me consiga envolver, que ainda me consiga motivar!
Fecho os olhos. Pensamentos sem nexo desfilam na minha mente. Não quero agarrar nenhum. Nenhum deles merece a minha atenção.
Há apenas um pensamento... um sentimento... uma sensação... que continua teimosamente, persistentemente a minar-me por dentro. Esse e apenas esse é o esteio que me sustém. No meio de toda a dor, a esperança ainda espreita, timidamente, no meu coração...


Foto: Nuno Lobito

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Anseio



Com a tua recordação construo um poema que recito só para mim.
Um poema de amor onde as palavras me afagam a alma e aquecem o coração.
Assim, sempre me sinto menos sozinha... um pouco menos triste...
Relembro momentos nossos... imagino outros, o calor do teu corpo junto ao meu e os teus braços enlaçando-me com ternura.
A tua boca procura a minha... os teus olhos prendem-se nos meus num mar imenso de paixão...
Inesperadamente, uma lágrima rola pelo meu rosto...

... esta noite apenas danço com a solidão...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Segredo



Nem o tempo tem tempo
Para sondar as trevas
Deste rio correndo
Entre a pele e a pele
Nem o tempo tem tempo
Nem as trevas dão tréguas
Não descubro o segredo
Que o teu corpo segrega.


Poema: David Mourão-Ferreira
Foto: paulo césar

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Poema XVIII


Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.

Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.


Poema: Eugénio de Andrade
Foto: Kemel José Fonsêca Barbosa


terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sozinha


Penso em ti...
Ouço-te, na minha imaginação.
A tua voz meiga afaga-me e leva-me para um mundo onde só tu me sabes levar.
Sigo-te...
Deixo-me embalar na doce melodia das palavras
E sinto-me mais leve.
Preciso de te ouvir...
De saber que estás aí... e pensas em mim
Diz-me que pensas em mim.
Diz-me que não me esqueceste apesar da ausência... ou mesmo por causa dela...
Diz-me... tudo o que eu quero ouvir... preciso de ouvir...
e tu tão bem sabes dizer.

Foto: AmandaCom

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Quero um homem...



Quero um homem
que toque minha alma,
que entre pelos meus olhos
e invada meus sonhos.
Quero que me possua inteira,
corpo e alma,
fazendo dos meus desejos
breves segundos de êxtase
o prazer do encontro total.
Quero sentir seus braços longos
envolvendo meu abraço,
seus lábios mudos
calando o meu silêncio
sem precisar nada dizer...
apenas me olhando
com olhos negros e húmidos
e me tomando devagar,
como o mar avança na praia,
como eu sei que tem que ser
e sei que um dia será.


Poema: Cláudia Marczak
Foto: ABrito



segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Mundo paralelo



Atravesso o infinito azul do tempo.
Vou... sem saber para onde vou...
Quero sentir de perto o beijo do Sol,
o toque do orvalho matinal.

Os meus passos seguem sem rumo,
apenas contemplando a paisagem
que me transporta para um mundo de ilusão...
Vou... para onde vou?

Para onde é que os meus pés me levam?
Não interessa... não é importante...
o importante é deixar-me ir sem destino...
Saboreando cada pedaço da natureza adormecida.


Foto: Raul Alexandre



quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Encantamento



Um sentimento de solidão
Atravessa-me a alma.
Olho a imensidão do mar
E um arrepio percorre todo o meu corpo.
Apetece-me ir...
Entrar por esse mar dentro...
Render-me ao encantamento que o rumor das ondas me provoca.
Sinto o apelo do mar,
Sinto o canto das sereias chamando por mim.
Caminho... vagarosamente...
Entro... lentamente...
Fujo... para bem longe de mim.


Foto: DeviantArt

quinta-feira, 24 de julho de 2008

The Closest Thing To Crazy




How can I think I'm standing strong,
Yet feel the air beneath my feet?
How can happiness feel so wrong?
How can misery feel so sweet?
How can you let me watch you sleep,
Then break my dreams the way you do?
How can I have got in so deep?
Why did I fall in love with you?

This is the closest thing to crazy I have ever been
Feeling twenty-two, acting seventeen,
This is the nearest thing to crazy I have ever known,
I was never crazy on my own:
And now I know that there's a link between the two,
Being close to craziness and being close to you.

How can you make me fall apart
Then break my fall with loving lies?
It's so easy to break a heart;
It's so easy to close your eyes.
How can you treat me like a child
Yet like a child I yearn from you?
How can anyone feel so wild?
How can anyone feel so blue?


Poema:Katie Melua
Foto: Deviantart


quinta-feira, 17 de julho de 2008

É urgente o amor


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.


Poema: Eugénio de Andrade
Foto: Howard Nowlan

domingo, 29 de junho de 2008

Solidão



Sentimento de solidão...
Sinto-me perdida no meio da multidão
Vagueio por entre as ruas, despojada de mim.
Estou vazia... oca... nua de sentimentos e emoções
Preciso que os teus braços me abracem
Preciso sentir o toque das tuas mãos
Imagino os teus lábios no meu pescoço...
Imagino... muito mais...


Foto: rosalina afonso

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Crepúsculo




É quando
um espelho no quarto
Se enfastia
Quando a noite se destaca
Da cortina;
Quando a carne tem o travo
Da saliva;
Quando a força da vontade
Ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
Se equilibra....
É quando às sete da tarde
Morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina
com luz lívida, a palavra
despedida.


Poema: David Mourão-Ferreira
Foto: Norm Murray

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Divagações



O negro veludo do teu olhar
Pousa no meu corpo teimosamente.
Percorre-o, lentamente...
Divaga... lânguidamente,
demora-se... nos meus seios, no meu sexo...

As tuas mãos acompanham os teus olhos
As carícias são macias, são suaves...
E eu deixo-me ir... partir... subir...
Voar... para fora de mim.


Foto: CarbonKid

domingo, 22 de junho de 2008

Beijo-te



Encostar à tua, a minha boca...
Sorver a vida no teu fôlego...
Entre os teus lábios encontrar a minha razão de ser ...
No meu beijo sentir a urgência do amor...
No teu beijo sentir o sabor do mel... o desejo palpitante...
Beber-te a sede... até ao mais profundo do meu ser...


Foto: Jingna Zhang


domingo, 15 de junho de 2008

Olhando-se



O espelho enche-se com a tua
imagem; e queria tirá-lo da tua
mão, e levá-lo comigo, para
que o teu rosto me acompanhe
onde quer que eu vá.

Mas sem ti, o espelho
fica vazio; e ao olhá-lo, vejo
apenas o lugar onde estiveste, e
os olhos que os meus olhos procuram
quando não sei onde estás.

Por que não fechas os olhos
para que o espelho te prenda, e
outros olhos te possam guardar,
para sempre, sem que tenham de olhar,
no espelho, o rosto que eu procuro?


Poema: Nino Júdice
Foto: Hypnoticell

sábado, 14 de junho de 2008

Nesta curva



Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.


Poema: Alexandre O'Neill
Foto: Lena Queiroz



sexta-feira, 13 de junho de 2008

Incerteza




Sentimentos por descobrir…
Sensações à flor da pele…
Porque preciso de definir
O que pressinto nele?

Inquietações quem as não tem?
Será que ele as tem também?

E indefinições?... Incertezas?...
Tantos “ins” me rasgam a alma…
Pequenas coisas, miudezas,
Que perturbam a minha calma.

Preciso saber…
Preciso acalmar esta agitação…
Quero poder sentir sem sofrer…
Sem medo da rejeição.


Foto: Virgiliu Narcis




quinta-feira, 12 de junho de 2008

Desabafo



Estava sozinha... estava feliz... estava bem...
Não te esperava, não contava que te lembrasses de mim...
Porque me falaste?
Porque me fizeste recordar o que eu tanto me tinha esforçado por esquecer?
Para quê?


Foto: Alba Luna

sábado, 7 de junho de 2008

Encantamento



Deito-me na areia.
Deixo-me envolver pelos raios doirados do Sol que me aquecem a alma e acalentam o espírito.
O som das ondas a desfazerem-se na praia chega até mim como se de uma música suave se tratasse e deixo-me embalar docemente, sem pensar... sem questionar o que faço aqui.
Rolo... rebolo... quero sentir o roçar da areia quente na pele... quero sentir o abraço húmido da água no meu corpo... quero ser feliz...


Foto: antoniolouro



sexta-feira, 6 de junho de 2008

As sem razões do amor



Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Poema: Carlos Drummond de Andrade
Foto: Ricardo Tavares

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Paraíso



Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.


Poema: David Mourão-Ferreira
Foto: JanaVieras

domingo, 1 de junho de 2008

É o poema de quem rasga os versos



É o poema de quem rasga os versos
porque os sentiu demais para os dizer
e os ouve nas ondas tão dispersos
como os sonhos que teve e viu morrer.


Poema:António Patrício
Foto: Marina Cano


sexta-feira, 30 de maio de 2008

Escrevo o que vejo


Escrevo o que vejo, mas também
vejo o que escrevo. E no teu rosto,
o que vejo são as palavras que
nascem dos teus olhos, quando
os abres, e toda a luz do mundo
desce pelo teu rosto, dizendo
que é manhã. Por isso as escrevo,
para que a manhã possa nascer
deste poema, através das palavras
que o teu rosto me ensina.


Poema: Nuno Júdice
Foto: Nuno Manuel Baptista

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Devaneios


Há olhares que dizem tanta coisa… há frases que só nós entendemos o seu verdadeiro significado…e há a ânsia de ficarmos sós. A vontade mal disfarçada de um toque, um gesto que quer ser mais do que o que foi, um sussurrar de pequenos nadas que são tudo…
O teu olhar perde-se no meu… O meu olhar perde-se no teu… Entre nós há uma ligação que não consigo explicar. Entendemo-nos sem trocar uma palavra, sem dizer nada, como se não houvesse mais nada que pudéssemos dizer um ao outro, e no entanto está tudo ainda por dizer… e há tanto que te quero contar, tanto que quero partilhar contigo…

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Sinto-te a falta...



Sinto-te a falta…
No calor dos meus braços
Na ternura dos meus abraços
Sinto-te a falta!

Sinto-te a falta…
No meu beijo perdido
No meu olhar esquecido
Sinto-te a falta!

Sinto-te a falta…
No meu corpo fremente
Nas minhas mãos carentes
Sinto-te a falta…


Foto: Kazuo Okubo


terça-feira, 27 de maio de 2008

O que desejei às vezes



O que desejei às vezes
Diante do teu olhar,
Diante da tua boca!

Quase que choro de pena
Medindo aquela ansiedade
Pela de hoje - que é tão pouca!

Tão pouca que nem existe!

De tudo quanto nós fomos,
Apenas sei que sou triste.



Poema: António Botto
Foto: Massimiliano Uccelletti

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Não é o coração



Não é o coração
mas esta carne
em seu rumor.

Não é o coração
mas teu silêncio
de intenso furor.

Não é o coração
mas as mãos
sem corpo, vazias.
Na grave melodia
de um instante
tu e eu
em desequilíbrio
na infame
consistência
de um absoluto
obstáculo.

Poema: Ana Marques Gastão
Foto: Tomas Rücker

domingo, 25 de maio de 2008

Aspiração



Quero viver...
Quero sonhar...
Quero querer...
Quero amar...

Quero sentir...
Quero esperar...
Quero partir...
Quero ficar...

Quero dançar na roda da vida...
Quero vogar ao sabor da ilusão...
Quero sentir-me vagamente perdida
E apoiar-me na tua mão.

Quero a beleza da lua
Numa noite de luar
Ser completamente tua
Sem receio de me dar...

Foto: Massimiliano Uccelletti


sábado, 24 de maio de 2008

Janela Indiscreta


Sinto em mim uma ternura insuspeitada... uma doçura feita de mel, dourada e transparente.
Estou feliz e sonhadora. Um calor suave invade-me o corpo e penetra-me na alma. Apetece-me sentar junto à vidraça olhando o céu cinzento que hoje, não me consegue entristecer.
Quase queria ir dançar à chuva... rodopiar uma e outra vez, num remoinho louco de vida, de alegria, de força de viver...


Foto: Jingna Zhang

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Distância



Entro no teu quarto, como se
entrasse no mar. Um temporal de perguntas
enrola os teus cabelos. Lanças-te
contra as ondas de um sonho antigo,
e abres a porta da varanda
para te sentares à cadeira
do oriente, apanhando o vento
da tarde. «Não te levantes, digo,
e deixa que os teus olhos se libertem
de sombra, depois de uma noite
de amor, para me abrigarem
da luz estéril da madrugada.» Mudas
de posição, como se me tivesses
ouvido; e o teu corpo enche-se
de palavras, como se fosses
a taça da estrofe.

Poema: Nuno Júdice
Foto: paulo cesar


quinta-feira, 22 de maio de 2008

O sol nas noites e o luar nos dias



De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.


Poema: Natália Correia
Foto: Marius Necula

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Poema



Como se o teu amor tivesse outro nome no teu nome,
chamo por ti; e o som do que digo é o amor
que ao teu corpo substitui a doçura de um pronome
- tu, a sílaba única de uma eclosão de flor.

Diz-me, então, por que vens ter comigo
no puro despertar da minha solidão?
E que mumúrio lento de uma cantiga de amigo
nos repete o amor numa insistência de refrão?

É como se nada tivesse para te dizer
quando tu és tudo o que me habita os lábios:
linguagem breve de gestos sábios
que os teus olhos me dão para beber

Poema: Nuno Júdice
Foto: AmandaCom


terça-feira, 20 de maio de 2008

O amor





O amor não tem princípio nem fim porque quem vive no seu presente vive na eternidade. O rosto do amor ao olhar-nos prende-nos a si para sempre. Nunca mais esquecemos o seu olhar infiltrante, feiticeiro, a insinuar-se e a impor a sua presença para todo o sempre. Nunca mais esquecemos as feições do amor, o corpo em que encarna, o toque mágico que primeiro dá à luz o nosso próprio corpo e depois o ressuscita vezes sem conta de cada vez que o acaricia na noite da vida.
O amor é um animal selvagem que chega ate nós e ocupa cada ponto do nosso corpo, mais, toda a nossa vida. O seu poder de contaminação é total. Basta um só olhar. O amor é esse conflito permanente e completo: liberta e agarra, é doçura e amargura, refaz e desfaz, ressuscita e adormece, faz-nos sonhar e confronta-nos com a realidade pura e dura, dá à luz. Mas também tem o poder de nos matar.
No amor oscilamos entre tudo poder ser e nada poder ser, a impossibilidade de tudo. É este o amor, é esta a nossa vida.Tu sabes, não sabes? Eu sei muito pouco, quase nada. De ti quero aprender tudo. O melhor e o pior. O resto é-me indiferente.


Texto: Pedro Paixão
Foto: Tomas Rücker


segunda-feira, 19 de maio de 2008

Perdição



O que é que tu tens para eu te querer tanto?
Que loucura é esta que me possui cada vez que te vejo, cada vez que te ouço, cada vez que leio as tuas mensagens?
Perco-me no teu olhar, no teu sorriso...
Perco-me de cada vez que te vejo...
Perco-me com a tua voz, com as tuas palavras...
Perco-me em ti...


Foto: Paulo Almeida (Pasma)



domingo, 18 de maio de 2008

Frémito do meu corpo...




Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...


Poema: Florbela Espanca
Foto: Ilya Rashap


sábado, 17 de maio de 2008

Quero...



Quero sentir-te junto a mim...
Quero sentir o teu corpo quente e enroscar-me em ti...
As tuas mãos percorrendo-me... lenta e suavemente...
A tua boca... ah, a tua boca! Que loucura imaginar as sensações que a tua boca me proporciona...
Quero...
Quero...



Foto: CarbonKid

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A hora da partida


A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida


Poema: Sophia de Mello Breyner Andresen
Foto: José Luís Mendes (Ze Luis)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Quase de nada místico



Não, não deve ser nada este pulsar
de dentro: só um lento desejo
de dançar. E nem deve ter grande
significado este vapor dourado,

e invisível a olhares alheios:
só um pólen a meio, como de abelha
à espera de voar. E não é com certeza
relevante este brilhante aqui:

poeira de diamante que encontrei
pelo verso e por acaso, poema
muito breve e muito raso,
que (aproveitando) trago para ti.

Poema: Ana Luísa Amaral
Foto: antonio louro

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Ansiedade




O meu desejo por ti dói-me.
Crava-se no meu peito como uma garra, impedindo-me de respirar.
Quero-te e não te tenho.
Preciso de ti e não te encontro.
Procuro no interior de mim a lembrança do nosso tempo juntos… talvez assim consiga suportar melhor a dor da tua ausência.
Mas o efeito não é o pretendido. A memória não me conforta, antes agudiza mais a ansiedade sentida.
Tudo tem um tempo na vida. Será que o nosso já terminou?


Foto: Tuta

terça-feira, 13 de maio de 2008

E por vezes



E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos


Poema: David Mourão-Ferreira
Foto: Roberto Gallacci

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Para sempre guardado




Quero registar-te na palma da minha mão
Impressão digital de cada recanto do teu corpo
Quero que fiques gravado no meu coração
Na saudade de te ter e sentir-te de novo.

Quero que permaneças no meu olhar
Eternamente iluminando o meu caminho
Quero ouvir no teu ténue sussurrar
Palavras de amor, ternura e carinho.

Toma-me mais uma vez...
Deixa-me satisfazer esta doce loucura
De te reter para sempre, talvez...

Sem nunca deixar de acreditar
No que o teu olhar murmura...
E me fez apaixonar...


Foto: antoniolouro

domingo, 11 de maio de 2008

O teu nome




Flor de acaso ou ave deslumbrante,
Palavra tremendo nas redes da poesia,
O teu nome, como o destino, chega,
O teu nome, meu amor, o teu nome nascendo
De todas as cores do dia!


Poema: Alexandre O'Neill
Foto: Paulo Madeira


sábado, 10 de maio de 2008

A boca



A boca,

onde o fogo
de um verão
muito antigo

cintila,

a boca espera

(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)

espera o ardor
do vento
para ser ave,

e cantar.

Poema: Eugénio de Andrade
Foto: Lady-Dementia


sexta-feira, 9 de maio de 2008

Dúvidas e inquietações



Aquela hora voou.
Ter-te ali na minha frente foi um desafio ao meu poder de concentração.
Sentia os teus olhos cravados em mim e, quando eu levantava os meus e o nosso olhar se cruzava, invadia-me uma sensação de torpor, de languidez, que não me permitia prestar atenção ao que se passava à minha volta.
Os teus olhos e o teu olhar quereriam dizer alguma coisa? Estaria a interpretar bem os sinais que me enviavas? Estarias realmente a dizer-me o que eu teimava em ver? Montes de dúvidas atravessaram-me o pensamento, juntamente com um desejo louco de te abraçar, de beijar essa boca que irresistivelmente prendia a minha atenção. Quando à despedida me falaste no “nosso sítio”, aí sim, tive a certeza de que o meu desejo era o teu, a minha vontade era a tua…


Foto: Ricardo Costa


quinta-feira, 8 de maio de 2008

Melancolia



Ver-te foi um raio de Sol na aridez do meu dia. Olhar-te e sentir no teu olhar que ainda não te sou indiferente deixou-me tão feliz... Foi tão bom...
Então porque estou tão triste? Porque não consigo reviver esse momento encantado e preencher com ele a minha alma?
Quero mais... Preciso de mais... Conheço muito mais e sinto saudade. Será que também sentes? Será que também queres? Será?


Foto: AmandaCom


quarta-feira, 7 de maio de 2008

Volta



Tenho fome do teu olhar
Que se demora no meu
Devassando-me até à alma.

Tenho sede dos teus lábios
Que beijam os meus com sofreguidão
Fazendo-me vibrar.

Tenho fome do teu calor
Que me envolve ternamente
Fazendo-me suspirar.

Tenho sede das tuas mãos
Que me acariciam docemente
Deixando-me em êxtase…

Tenho fome…
Tenho sede…
De ti.

Foto: antónio louro

terça-feira, 6 de maio de 2008

Gozo IV


Que tenhas de mim
o contorno incerto
acertado nas linhas do
teu corpo

os dentes nos lóbulos e no pescoço
os lábios
a língua a cobrirem os ombros


Poema: Maria Teresa Horta
Foto: Kazuo Okubo



segunda-feira, 5 de maio de 2008

A boca e as bocas





Apenas
uma boca. A tua Boca
Apenas outra, a outra tua boca
É Primavera e ri a tua boca
De ser Agosto já na outra boca

Entre uma e outra voga a minha boca
E pouco a pouco a polpa de uma boca
Inda há pouco na popa em minha boca
E já na proa a polpa de outra boca.

Sabe a laranja a casca de uma boca
Sabe a morango a noz da outra boca
Mas sabe entretanto a minha boca

Que apenas vai sentindo em sua boca
Mais rouca do que a boca a minha boca
Mais louca do que a boca a tua boca.


Poema: David Mourão-Ferreira
Foto: Susib