sábado, 11 de dezembro de 2010

No teu âmago




Volto ao teu âmago, não porque me vista apenas de palavras, mas porque essencialmente sou feito de sentidos. Recolho, cada gota de água que me dispensas, vontade de saciar a minha sede, de em ti beber, de te ver e te sentir colada em mim. Visito-te, nas noites em que teu sono se agita nas tormentas da vida, em que as insónias te levam a deambular pelos vazios adormecidos. Vejo-te, de rosto colado na vidraça, olhando a chuva lá fora. Volto a ti em todos os instantes em que te esqueces da vida e podes dedicar-te ao meu pensamento, naqueles loucos momentos em que tuas mãos conduzem as minhas até ao mais íntimo do teu prazer.
Sentes, o calor exaltado dos meus beijos, quando tocam teus lábios molhados, quando minha língua é pincel que teu corpo cobre com os matizes suaves do nosso próprio prazer. Conténs nos lábios cerrados os gemidos que a noite não te permite libertar, seguras o teu prazer, até à última gota, como se quisesses em ti conter o fogo de um vulcão em erupção anunciada. O que me acordas é tão imenso que nem mesmo o mundo comporta tamanho desejo.



Texto: Druida Noite
Foto: Oleg Kosirev

domingo, 10 de outubro de 2010

Quero voar





Quero voar
-mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
-mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
-tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...

(Mas qualquer balouçar ao vento me parece Liberdade.)


Poema: José Gomes Ferreira

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Cais da Vida





...Cheguei ao limite de mim...
...Ao lugar onde só reside a condição divina ou apenas cabe a alma ausente...
...E o que verdadeiramente me apetece é mergulhar de uma vez por todas nesse apelativo mar de mistério e sedução, nem que tenha depois de morrer afogada nas ondas do pânico e do remorso...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

...



Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.


Poema: Maria do Rosário Pedreira



domingo, 27 de junho de 2010

Acabou...






Sabia de onde vinha...
Será que sei para onde vou?.......
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sexta-feira, 26 de março de 2010

Esperei-te


com a saudade escorrendo por entre os dedos
pensando misturar nos meus os teus segredos
e invadir os silêncios dos recantos da tua voz...
Até que a noite ofuscou essa esperança
e tu foste embora
e não quiseste saber dos meus cansaços
nem dos meus dedos entrelaçados nos braços
e deixaste-me só
com a saudade aos pedaços.



Poema:Pedro Macela
Foto: Katarzyna Rzeszowska