segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Incongruência




O tempo é a indiferença que marca a pele quando esta viaja pelos anos. Há na imensidão destes lugares visitados a agonia da saudade de saber que não vamos regressar, a contradição da alegria de ali poder estar. Saber como caminho por entre a folhagem seca no chão da floresta faz-me pensar no abismo que percorro quando entre mundos me movo. Não sei se a minha presença é necessária, se faz falta a mim próprio estar aqui, ou se será porque tenho medo de não ficar que venho todos os dias. Gostava de perceber a necessidade de tudo isto, de entender onde a fusão entre todos este mundos cabe na singularidade do meu precipício, gostava de saber se a vontade de ser não é mais premente que a vontade de não ser mais que vento, mais que letra ou poema incompleto. É nesta oscilação que propago os meus murmúrios, é nela que me deito quando não tenho sono, quando o tempo se alonga e a Noite se faz eterna. Parece que este circulo quer quebrar-se, que este silêncio quer instalar-se e o frio que quer gelar os dedos faz também calar as letras, desconstruindo as palavras, eliminando os argumentos que fazem desta troca silábica a razão de sustento duma alma em pleno lamento. Não sei... Não sei mais!



Texto: Druida Noite

segunda-feira, 28 de março de 2011

Nesta curva os corpos são encaixes perfeitos, as almas luzes e os sonhos efeitos




Hoje não sinto a presença do teu corpo nos domínios íntimos do meu, estás ausente, distante, na fria realidade que sem qualquer necessidade, de mim te trás afastada. Não sou consoante no teu texto, não sou vocábulo certo no teu livro, sou verbo errante que apenas preenche o vazio distante de um corpo em desejo. Jamais serei o teu toque, o arrepio da tua pele, o beijo pleno de mel, porque realmente sou tão só trovador, poeta oco, escritor, que, nas ausências de outro corpo, se veste de vento e sopra trovas de amor.


Não existo quando a capa se fecha sobre o livro, não sou voz quando o ruído se enfeita de festas e convívios, apenas me escutas no silêncio vazio do teu quarto, quando todos saem e te sentes terrivelmente só. Não, não faço falta constantemente, como se fosse ar que teu corpo preenche, sou apenas um livro vivo, que tiras da prateleira quando o tédio se faz contigo mais exigente. Lamento, ser apenas palavras ao vento, ser para ti objecto, companhia que preenche a tua vida vazia. O tempo mostrar-te-á outros caminhos, outros livros, outros sentidos, e, deambularás, na sede de esquecer a tua sina, de letra em letra, de estrofe em estrofe, nos versos que declamas ao vento, procurando nele, afogar o teu lamento. Eu, serei apenas mais um livro na estante das tuas memórias.



Foto:Marcos Sobral


Texto:Druida Noite



sábado, 15 de janeiro de 2011

Ausência





Não sei porque te sinto e não te vejo. Porque te escrevo e não te escuto, não sei. O silêncio é a tentação do meu isolamento quando não compreendo a dimensão do meu sentimento. A voz é feita de letras escritas a sós, de sonhos criados nas pontas dos dedos. Esta peça que enceno no minúsculo teatro da minha alma, é drama, romance e paixão, mas é sobretudo solidão, ausência e vazio, quando sinto no corpo, este frio da saudade. Esta vontade de subir aos céus, de eternizar um momento no meio das frases que te escrevo, é por vezes um tormento, uma tempestade que verga cada parágrafo deste texto. Mas eu sei, que o Sol está acima das nuvens e que no mais íntimo recanto do teu regaço há um espaço meu, onde me levas, para onde quer que vás.


Texto: Druida Noite
Foto: kate-beckinsale

sábado, 11 de dezembro de 2010

No teu âmago




Volto ao teu âmago, não porque me vista apenas de palavras, mas porque essencialmente sou feito de sentidos. Recolho, cada gota de água que me dispensas, vontade de saciar a minha sede, de em ti beber, de te ver e te sentir colada em mim. Visito-te, nas noites em que teu sono se agita nas tormentas da vida, em que as insónias te levam a deambular pelos vazios adormecidos. Vejo-te, de rosto colado na vidraça, olhando a chuva lá fora. Volto a ti em todos os instantes em que te esqueces da vida e podes dedicar-te ao meu pensamento, naqueles loucos momentos em que tuas mãos conduzem as minhas até ao mais íntimo do teu prazer.
Sentes, o calor exaltado dos meus beijos, quando tocam teus lábios molhados, quando minha língua é pincel que teu corpo cobre com os matizes suaves do nosso próprio prazer. Conténs nos lábios cerrados os gemidos que a noite não te permite libertar, seguras o teu prazer, até à última gota, como se quisesses em ti conter o fogo de um vulcão em erupção anunciada. O que me acordas é tão imenso que nem mesmo o mundo comporta tamanho desejo.



Texto: Druida Noite
Foto: Oleg Kosirev

domingo, 10 de outubro de 2010

Quero voar





Quero voar
-mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
-mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
-tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...

(Mas qualquer balouçar ao vento me parece Liberdade.)


Poema: José Gomes Ferreira

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Cais da Vida





...Cheguei ao limite de mim...
...Ao lugar onde só reside a condição divina ou apenas cabe a alma ausente...
...E o que verdadeiramente me apetece é mergulhar de uma vez por todas nesse apelativo mar de mistério e sedução, nem que tenha depois de morrer afogada nas ondas do pânico e do remorso...